16 de out. de 2013

"Eu quero uma casa no campo..."


 
Meu canto é assim: cheio de branco a refletir todas as cores, sons de animais, folhas em atrito, mensageiro dos ventos e gargalhadas infantis. Ele exala odor de mato, incenso, terra molhada, corpo com cheiro de Sol, café e bolo assando. Tem gosto de brisa entrando pela janela enquanto bailam as cortinas de fino tecido, de chinelinho descansando frente à poltrona onde também repousa um livro aberto, lido pela metade e sob os óculos. Meu canto inspira paz, amor e a certeza de que os melhores dias são o resultado de um ontem vivido e refletido, de um hoje comedido e um amanhã desejado. Em meu canto cabem tantos sonhos, tanta música e poesia que a poeira visita, mas não faz moradia. Há tanta luz que mesmo à noite não passeiam monstros. Quem chega fica se é do bem e naturalmente se afasta se não o for. Ali pulsam estrelas, pirilampos, vagalumes e ninfas e os deuses o cercam em ritual protetor. Em meu canto já foram derramadas lágrimas, tantas quantas necessárias para meu sorriso se fazer Astro Rei. Nele também cabe o silêncio que cala fundo, apesar das badaladas do velho relógio pendurado na parede. Meu canto é cama pronta para deitar, com lençóis banhados em lavanda. É fogão aquecido para alimentar, banheira de água límpida para aquietar as dores da alma. A esse lugar, todos têm acesso, mas poucos conseguem ficar, pois é necessário muito mais do que vontade para permanecer. Há de se manter afinado com a melodia que vem lá de dentro do sótão, inspirar o odor intangível à matéria e flutuar levemente, tentando sempre e cada vez mais, transpor as imposições do ego.

Ana Virgínia Almeida Queiroz

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