O muro da Depressão.

Não há dúvidas sobre a importância e influência dos pais na primeira infância de um indivíduo.

Mergulhando no inconsciente.

Muitas pessoas têm receio de fazer psicoterapia.

Um olhar para a depressão

A depressão é diferente do estado deprimido, o qual pode ser resultado de fatos corriqueiros

Tirando a poeira debaixo do tapete

Você sabe que algo não vai bem, mas não sabe como criar espaço para dizê-lo

As relações não curam todas as carências

“Nós escrevemos scripts para outras pessoas encenarem, mas esquecemos de lhes comunicar isso”.

Transtorno do Pânico

A síndrome do pânico enquadra-se no conjunto de transtornos de ansiedade

31 de jan. de 2012

Viver para si...


Na prática da autenticidade pode-se colher: raiva, inveja, rejeição e até indiferença. Nada disso pertence ao autêntico. Ele deve seguir agindo, pois apenas assim poderá se surpreender com os resultados... mesmo os aparentemente negativos, como por exemplo, o afastamento temporário de pessoas amadas. Sejamos felizes primeiramente conosco. No final, tudo se ajeita e todos se entendem.

A rotina faz falta


Por incrível que pareça meus filhotes já estão com saudades da rotina escolar. O dia pra eles está sendo mais cansativo do que se estivessem em suas atividades normais. As brigas são constantes, o chora chora também e quem fica estressada nessa história, heim?! A mamãe aqui que se esforça pra ser uma mãezona e acha que a culpa de tanta indisciplina é dela.

Rafa ainda vai pra farmácia "ajudar" o pai. E quando dá pra fazer perguntas... sai de baixo!
Lucas quer ir também, mas os 2 juntos num ambiente comercial... nem a "Super Nanny" ida dar conta. Já tentamos e o estresse foi bem maior. 


Deixá-los o dia vidrado na TV era o que eu menos queria, mas fazer o quê? Os quebra-cabeças já se esgotaram, das brincadeiras já se fartaram e pra completar a chuva cai e eles têm que ficar dentro de casa, saindo no máximo até a varanda. E a "bendita" TV ligada...
Antes queriam muito assistir Discovery Kids... hoje é Cartoon Network, Boomerang, Disney, Nickelodeon, Sport TV.


Os filmes de bebês... já era o tempo. Agora é luta por cima de luta, policial, bandido e ladrão. E o pior... querem imitar na vida real e serem os salva-vidas do planeta. Aí vêm as quedas e os machucados e as brincadeiras pesadas que toda mãe de menino sabe muito bem como elas terminam.


A gente chega em casa, faz uma coisa, faz outra, dá um "time" no "facebook" e eles ainda viram pra gente e dizem: “a senhora gosta mais dos seus amigos do que de mim”. Ninguém merece!! Chantagem emocional... isso eles também sabem fazer. rsrs... Mas quanto estão em seus jogos online ficam "surdos e mudos" vidrados na tela do PC e esquece da mãe, do pai e até deles mesmos. 


Bem, mas apesar das indisciplinas e alguns castigos aplicados, as férias tiveram um saldo positivo: aprenderam a lavar louças, enxugá-las; arrumar a cama e dobrar seus lençóis.
Rafael com apenas 7 anos já se acha um pré adolescente (é assim mesmo que ele se rotula) e depois que aprendeu a fritar um ovo... 


Já disse que homem pode casar com 15 anos e pode até ser pai (misericórdia, Jesus!).
Depois dessas... acho melhor as férias acabarem porque percebo que em suas rotinas eles voltam a ser crianças e quando estão sem atividades querem nos imitar e acabam nos surpreendendo com cada uma!


Então... que venha o 1º dia de aula pros meus abençoados!! Pode chegar com todo gás!! Eles já estão preparados!! E nós pais também!! ;)"

Carliana Queiroz Serra Menezes
Idade: 37 anos, mãe de Rafael  e Lucas (7 e 4 anos)

Farmacêutica Bioquímica
Coroatá - Maranhão

30 de jan. de 2012

Dez Mandamentos do Crescimento Pessoal


  1. Ninguém ama aquilo que não conhece e para te tornares responsável por ti mesmo precisas conhecer quem és! Como poderás ser feliz se não moras em ti?
  2. Aceita-te a ti mesmo, amando aquilo que és, pois ‘quando abraçares as tuas sombras, elas serão redimidas’! Não lutes contra ti mesmo! A primeira luta é... parar de lutar!
  3. Ama a ti mesmo, do jeito que és: Deus que te conhece, te aceita e te ama do jeito que és! Como poderás amar o outro se não te amas? Como poderás te doar aos outros se não te possuis? Como poderás ser... se não és inteiro?
  4. ...não alimentes sentimentos de culpa nem reprimas teus sentimentos e emoções, por mais negativos que sejam, ‘pois todos eles são legítimos, o modo como os canalizas é que pode ser adequado ou não’!
  5. Acolhe teus limites e não construas para ti ideais sobre-humanos, pois ‘o ser humano pode chegar até aos cimos, mas não pode viver aí por muito tempo’. Permite a ti mesmo ser uma pessoa humana, pois esse é o início da tua libertação pessoal!
  6. Cultiva em ti a mística do crescimento, mas lembra sempre que ‘crescer é deixar de ter um conjunto de problemas e passar a ter um conjunto melhor de problemas’ e que a pessoa madura não deixou de ter limitações mas apenas aprendeu a conviver com elas!
  7. Recorda sempre que vês as coisas não do jeito que elas são mas do jeito que tu és... e que o problema não é o problema mas o modo como encaramos o problema e que ‘tu és aquilo que pensas’ e que duas são as regras para viver feliz, sendo a primeira que não deves te preocupar com as coisas pequenas e rezando a segunda... que todas as coisas são pequenas!
  8. Fala para ti mesmo, todos os dias de tua vida, que talvez não tenhas a liberdade de ser o que queres, mas podes ser livre com aquilo que és e nunca uses ‘bengalas’ para justificar tuas atitudes, pois ‘os que não têm coragem sempre têm uma filosofia para se justificar’.
  9. Procura libertar-te de tuas máscaras e descobrir por trás delas a essência verdadeira que elas protegeram e esconderam... e que agora precisas resgatar e cultivar para seres tu mesmo! Precisarás optar entre manter tua auto-imagem ou ser feliz!
  10. Reza sempre que ‘a melhor maneira de se chegar ao conhecimento de Deus é através do autoconhecimento e que é desatino pensar que haveremos de entrar no céu sem primeiro entrar em nós mesmos, a fim de conhecer e considerar nossa miséria’ e que ‘sem me conhecer não conheço a Deus’ e que ‘a proximidade com o humano constitui tua maior conquista espiritual’.

Domingos Cunha


Ansiedade – um recurso para o sucesso!


“Há semanas não durmo direito. Acordo sempre às quatro da madrugada... meus pensamentos ficam dando voltas, os problemas durante os momentos de insônia são muito maiores do que durante o dia... ando me sentindo muito cansada e não me fixo em nada. Sinto muita tristeza, pois não consigo concluir minhas tarefas. Quero comer, mas ando enjoada, paradoxalmente o doce me acalma. Quero chorar, fico irritada, quero ficar sozinha, dormir, meu corpo dói, tenho muita sede...”

Causadora de sintomas desagradáveis, a ansiedade é vista pela maioria das pessoas como um problema a ser eliminado quando, em sua essência, é uma emoção benéfica. Nos quadros de ansiedade normal, o indivíduo encontra-se em estado de alerta, mobilizado na resolução de desafios e problemas. Utiliza-se da energia ansiosa gerada pela situação para descobrir a energia vital, ou seja, vê o problema, o sente e o utiliza para a vida.
A ansiedade pode ser situacional ou específica ocorrendo episodicamente e associada a determinados eventos, situações ou objetos, a exemplo de pessoas que se incomodam na presença de insetos, ou com a possibilidade de viajar de avião ou falar em público, entre outros. Pode ocorrer ainda de forma espontânea, surgindo sem motivos aparentes. Quando a ansiedade é habitual considera-se um traço de personalidade, sendo bastante comum em pessoas definidas como estressadas (lembrando que o estresse entre tantos distúrbios de ordem física, dificulta a perda de peso em razão dos altos níveis de cortisol e adrenalina liberados no organismo).
     
Quando patológica, converte-se em temor excessivo e irracional de situações enfrentadas diariamente. Pode gerar desânimo, tristeza, hiperatividade e até mesmo depressão. Nesses quadros, a pessoa se deixa contaminar pelo problema, concentrando toda a energia que tem para resolvê-lo, mas sem sucesso. A ansiedade patológica envolve seis diferentes transtornos – fobia específica, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno do pânico e agorafobia, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade social e transtorno de estresse pós-traumático.

 Os resultados mais comuns em pacientes com transtornos de ansiedade são diversos, podendo envolver obesidade, anorexia, bulimia, alcoolismo, timidez, abuso de drogas e tabaco, dificuldade para dormir (preocupações excessivas e recorrentes), sensações de choque ou desamparo, relacionamentos insatisfatórios, pouca efetividade no trabalho e até mesmo suicídio. O transtorno de ansiedade precisa ser tratado para que a energia ansiosa seja utilizada na busca de resultados positivos, que gerem satisfação e bem-estar. O tratamento envolve acompanhamento Psiquiátrico e Psicológico.

O modo como lidamos com a emoção em questão, seja ele positivo ou negativo, resultando em uma ansiedade normal ou patológica, tem suas raízes estruturadas em nossa história de vida. Sentimentos de frustração quanto à nossa demanda de afeto e reconhecimento, uma educação perfeccionista, pais depressivos, controladores, nervosos e super protetores, conflitos familiares retidos (ninguém fala abertamente sobre um problema), pouca ou nenhuma socialização, históricos de separação dos pais, de violência doméstica ou de abuso infantil, são alguns dos fatores que podem desencadear o desenvolvimento de um transtorno de ansiedade, mas o (re)conhecimento de tais causas e a resignificação dos sentimentos originados em tais vivências podem representar também a chave para um aprendizado quanto à melhor forma de lidar com ela, por não se tratar de algo de que devamos tentar nos livrar. Compreendê-la é uma maneira de escapar da sua “tirania” e explorá-la em busca do equilíbrio físico-emocional. 

Suporte bibliográfico:
Psiquiatria básica – organizadores: Mario R. Louzã Neto, Thelma da Motta, Yuan-Pang Wang, Hélio Elkis / 1995;
Livre de ansiedade – Robert L. Leahy / 2011;
Quatro gigantes da alma – Mira y López / 2010

Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250




28 de jan. de 2012

Violência familiar


“Ninguém morreu, foi só um empurrão; não houve agressão física, foram apenas uns gritos; ...só uns palavrões e um aperto no braço; ... algumas coisas quebradas e alguns dias fora de casa sem dar notícias; não foi nada, ele estava nervoso e eu provoquei”.  
Minimizar situações como as descritas é uma atitude comum entre pessoas submetidas a episódios de violência, velada ou explícita, e normalmente são verbalizadas tanto pelos agressores como pelos agredidos.

A violência pode ocorrer de forma física, resultando em danos corporais e psicológicos, e pode ser também de natureza emocional ou psicológica, implicando em prejuízos subjetivos, determinando a forma como o indivíduo (re)agirá no curso de sua vida. Pode surgir a partir de tensões dentro da família e em virtude de dificuldades na estrutura da personalidade do indivíduo, que, muito provavelmente, teve como referência familiar um ambiente hostil e agressivo, adiante reproduzido na nova família.

O agressor apresenta comportamentos abusivos, possessivos e controladores, podendo ou não haver a presença de álcool ou drogas. Pode manifestar limitações em estabelecer uma relação íntima e amorosa com as pessoas. Ocupa normalmente uma posição que “deveria” ser de alguém com o papel de proteção (mãe, pai, padrasto, madrasta, marido, esposa, etc). A relação que o agressor estabelece com o agredido resulta em sentimentos de medo, vergonha, frustração, baixa auto-estima, desconfiança generalizada, pessimismo, sentimentos confusos gerados por ambivalência, ansiedade quanto ao próximo ato de violência. As vítimas sentem-se culpadas por algum feito do qual tenha resultado a agressão; tornam-se passivas para não provocar ainda mais a ira do agressor;  afastam-se, sentem raiva e têm a necessidade da vingança (tão logo tenham condições de inverter a situação, transformam-se em agressores requintados).

Toda relação de violência sugere a existência de um forte e de um fraco, de um dominador e de um dominado, de um superior e de um inferior, e é justamente assim que a vítima acaba aderindo ao jogo do agressor. Ao aceitar o seu papel de vítima, ela se curva à expressão de um poder acima dela mesma, tornando-se aterrorizada com a possibilidade de novos ataques acontecerem e, consequentemente, abre espaço para novas demonstrações de poder por parte do agressor e assim sucessivamente.

Um outro aspecto importante de tal relação é o pacto de silêncio estabelecido entre vítima e algoz. Saffioti (1987) diz: “A divulgação do ato violento compromete a imagem da vítima negativamente. Tendem a ser ocultos, seja porque a descoberta do agressor provocaria o desmoronamento de instituições, cuja gigantesca forma deriva do caráter sagrado, como no caso da família. Dada a sacralidade da instituição familiar, a sociedade marginaliza e estigmatiza aqueles que apontam suas mazelas”. E, ainda, não aceitar o jogo do segredo que esconde atos de abuso demonstra a intenção da vítima de romper com a violência e a resposta ao rompimento também é agressiva. Ao menor sinal de agressão deve-se dizer: “Não grite comigo!, Pare!, Basta!, Não me desqualifique!, Você está me tratando mal!”, o que assustará o agressor, fazendo-o perceber a desproporcionalidade de seu ato.

Novas atitudes são necessárias para mudar o quadro violento. Bons exemplos delas são lutar para que a violência seja percebida como crime e tratada como tal em casos extremos, identificar como é expressada (física, moral, sexual, psicológica, por meio de controle financeiro), eliminar o conluio (quando duas ou mais pessoas se unem contra uma outra – esposa e marido contra os filhos, mãe e filha contra o pai, entre outros), não desanimar quando perceber que a situação não está resolvida, e manter a crença quanto à mudança desse modo de tratamento.

Mas, igualmente fundamental no enfrentamento dessa patologia psicossocial é denunciar a violência – para que as relações dela decorrentes não se fortaleçam –, estar consciente de que existe em todos os lugares onde haja divergências de opiniões, diferenças culturais, pluralidade de crenças, diversidade de valores. Persistir na missão de mostrar que tal situação é prejudicial aos envolvidos, desenvolver a capacidade para defender-se dos maus tratos e cuidar para que a comunicação seja coerente e adequada, deixando claros os limites do que é e não é permitido.



Suporte bibliográfico:

(Quem grita perde a razão – a educação começa em casa e a violência também – Luiza Ricotta - 2002).



27 de jan. de 2012

Um olhar para a depressão


O funcionamento emocional e fisiológico  estão bastante interligados, o que nos limita a dimensionar as causas da depressão como de origem física ou psicológica.  Essas dimensões são constantemente afetadas pelas relações sociais e pelos acontecimentos no ambiente, uma vez que a aprendizagem interfere na estrutura cerebral e vice-versa.

A depressão é diferente do estado deprimido, o qual pode ser resultado de fatos corriqueiros que nos causam sentimentos de tristeza ou estados de melancolia, mas que não se instalam por muito tempo. O estado deprimido faz parte da dinâmica da vida.

D
o ponto de vista psicológico, a depressão pode ser vista como um sintoma referente ao distanciamento do verdadeiro “eu” (self), originando na infância, em decorrência do medo da rejeição e da perda do amor. Da experiência clínica, observa-se que, na história do depressivo não raro existem episódios que resultaram em frustração, raiva e culpa frequentemente reprimidas e, no presente, a sensação de ser uma fraude, uma farsa, associada a uma tendência variável em intensidade de descrença em si mesmo, além do temor do momento em que descobrirão (inclusive o próprio depressivo) a verdade sobre ele. Sente que foi usurpado de seus direitos de amor incondicional, de aceitação e de reconhecimento.

Comumente, são pessoas boas, servis, que costumam agradar os outros e se cobram a perfeição e o sucesso, favorecendo, em alguns casos, que os demais ao seu redor passem a depender delas como forma de se sentirem valorizadas. São carentes e a dúvida sobre se seriam amadas se fossem “verdadeiras” (com impulsos negativos inclusive) está sempre latente. Cedo ou tarde, se deparam com a realidade de que sua importância é resultado do que fazem e não do que são. É justamente nesse momento que eclode a depressão e que algumas pessoas procuram a resolução da dor por intermédio de automedicação, uma reação comum, pois instintivamente querem fugir da dor, mas extremamente perigosa, pois além de não resolver o problema, pode favorecer recorrências cada vez mais intensas, com riscos extremos como o suicídio.

Quando o sentimento de grandiosidade, que é a ilusão de ser aceito, reconhecido e amado, quando o que é admirado são seus feitos, cai por terra, os episódios depressivos vêm auxiliar o indivíduo, pois enquanto a grandiosidade camufla a depressão a cura se torna inviável. Em reforço a essa idéia, recente reportagem da revista “Galileu” (maio/2010) sobre a doença relatou casos de pessoas que só conseguiram a melhora quando passaram a aceitar e a entender o que estava acontecendo, libertando-se do preconceito em relação à enfermidade. A depressão “obriga” um olhar sobre essa dor, germinada na infância e abafada diversas vezes em prol da necessidade de outras pessoas, a exemplo do menino que assume o papel de “homem da casa” para suprir a ausência da figura paterna em caso de morte ou de separação e, ainda, da menina que cede aos assédios sexuais de um familiar abusador para suprir as dificuldades da personagem a quem caberia essa função.

A depressão surge para sinalizar que algo não está bem e que precisa ser revisto e tratado adequadamente (acompanhamento psiquiátrico, medicamento e psicoterapia). Alice Miller (1997) explica que no processo de cura a pessoa terá a possibilidade de entrar em contato com o sentimento de que nunca foi amada pela criança que era, mas usada por suas qualidades, sucessos e realizações. Perceberá que sacrificou sua infância por um “amor” recebido como pagamento, mas que a deixa de mãos vazias, pois é referente ao seu falso self. A libertação da depressão devolve a vitalidade, a autenticidade e a possibilidade de viver de forma espontânea os sentimentos que fluírem a partir do tratamento, mas vale ressaltar que não gera a ausência completa de sofrimento ou uma alegria infinita.

E, afinal, o que se lucra com isso? Possibilidade de maior satisfação nas escolhas, relações verdadeiramente amorosas, nas quais haja compreensão e aceitação das limitações próprias e alheias, convergindo para uma forma saudável de lidar com a doença, com a valorização de suas mensagens e de seus apelos para a transformação, em uma longa e contínua busca do verdadeiro eu.

Suporte bibliográfico:

· O drama da criança bem dotada – Alice Miller / 1997
· Depressão em adultos – Anton Tolman / 2009
· O lado bom da Depressão – EriKa Sallum, revista Galileu / maio de 2010, n° 226.

Vivo, logo, desejo...

“Simples assim!”
  Será?

Eram duas jovens conversando atrás de mim na fila do banco. Uma relatando à outra sobre a confusão de sentimentos instalada, desde que se percebera atraída por um colega da faculdade. A relação com o namorado não era a mesma, definindo-a como morna. A amiga, na tentativa de auxiliar ou piorar o conflito – como sabê-lo?- lança mão de toda sua experiência de vida para explicar que quando a relação chega em tal estágio é sinal de que o amor acabou, se é que existiu algum dia. A outra emudeceu.

Inevitável, para mim, imaginar em como ela estaria processando a fala da conselheira.

Impossível perceber as relações de forma tão estanque quando se está inserido em um processo de crescimento, que envolve o reconhecimento das próprias emoções e motivações. As telenovelas e a psicologia de banca de jornal perdem a graça. O horóscopo diário deixa de fazer sentido. “O conselho amigo” já não é tão necessário, pois existe a consciência de que ele está atrelado às experiências de outra pessoa, com valores diferentes.

Há uma tendência natural, em situações conflitantes como a descrita, que o desabafo pareça a melhor opção. O que leva à sua prática é também a necessidade da confirmação das próprias convicções e sentimentos, que pode resultar, no final das contas, em culpa; aquele que ouve e aconselha faz aumentar o sofrimento, frustrando todas as esperanças do solicitante.

Nesse contexto, e em diversos outros, é comum projetar em outra pessoa a capacidade de discernimento e as necessidades de aprovação e solução para a problemática, na expectativa de que ela (a outra pessoa) funcione como eco para aquilo que está dentro daquele que projeta e que desconhece tal potencial. E isso não para por aqui. As projeções podem variar entre imagens carregadas de sensações positivas ou negativas, geradoras de afinidades ou antipatias, de amor e de paixão ou aversão, além de inúmeras expectativas.


E agora? O que faço com isso?

Para grande parte das mulheres, lidar com sentimentos despertados a partir da convivência com um homem que não é o seu companheiro pode se tornar uma experiência conflitante. É provável que a nossa cultura monogâmica e de bases machistas exerça uma forte contribuição, e conduza a conceitos extremistas sobre o tema, forçando uma tentativa de "homicídio" dos instintos vibrantes da energia vital e que, necessariamente, não estão vinculados ao sexo.

Tende, muitas vezes, a confundir os sentimentos, julgando-se apaixonada e traidora. Desconecta-se de si mesma quando desiste de sentir-se viva, por falta de compreensão dos impulsos e por culpa e esta última aumenta quando o desejo se manifesta ou se concretiza de forma desfavorável à sua maturidade e ao seu preparo em lidar com ela.



Desejar, sentir-se atraída, encantar-se, pode fazer parte do conjunto de sentimentos projetados em alguém, assumindo esse o ônus por tal processo, quando na verdade ele também projeta. Fácil de provocar confusão. A maioria das pessoas só acredita na existência do amor ou do desamor, ignorando um longo caminho que liga os extremos e de onde podem surgir as mais fantásticas relações de amizade, cumplicidade e afeto, sem necessariamente comprometer um relacionamento pré-existente.


Ainda do ponto de vista comum (amor ou desamor), se a atração acontece, há entrega ou repressão. Se há entrega, pode surgir a culpa; se há repressão, episódio semelhante pode ocorrer no futuro, obrigando um olhar mais cauteloso e compreensivo sobre si mesmo, ignorado em oportunidades anteriores.

Não é simples lidar com esses sentimentos quando não se tem ao menos a noção de que a condição para se desejar alguém não é simplesmente o amor ou a paixão. A condição é estar vivo. O “poder” que o outro exerce sobre o desejo de alguém é o de um dispositivo que favorece a descoberta, o contato com essa maravilhosa energia criadora a que chamamos sexualidade, e que está dentro de cada um.

De posse dessa noção e das inúmeras escolhas que se pode fazer – da substituição do par ao investimento de tais sentimentos na relação já existente – é louvável lembrar que o problema não coabita no despertar dos impulsos, mas na maneira como se lida com as escolhas a partir deles.


O narcisismo nas relações

Narciso morreu apreciando a própria imagem, projetada nas águas de uma fonte, completamente entorpecido com a beleza apresentada.  Contextualizando o mito, não seria estranho imaginar que parte das relações também se baseia nos sentimentos originados do reflexo da própria imagem, percebido no olhar alheio. Enamorar-se de alguém pode estar atrelado ao encantamento por si mesmo espelhado em sua íris e, dessa forma, deixar de gostar vincula-se à morte da projeção de si mesmo no outro.

Amar está além das próprias necessidades de autoafirmação. É o olhar generoso para outra individualidade. Envolve a compreensão do “não-eu”, livre do egoísmo que teima na busca da própria realização, desconsiderando os limites da relação. É o bastar-se, mas receptivo às investidas que emanam de fora. O encontro de si mesmo, independente, solitário, amadurecido e com pontos de interseção bem definidos.

Não se trata de tarefa fácil, mais uma jornada cujos dividendos afetivo-emocionais podem fazer valer o investimento, se observadas as reais necessidades envolvidas na situação em comento e a garantia de um bem estar resultante, independente do caminho escolhido.


Ana Virgínia Almeida Queiroz – Psicóloga – CRP: 01-7250


Artigos relacionados:

1. Traição: uma via de mão dupla
2. Tirando a poeira debaixo do tapete
3. As relações não curam todas as carências






26 de jan. de 2012

Momento criança


No aeroporto, aguardando a hora do embarque, resolvi dar uma volta com as crianças para olhar as vitrines.

Naturalmente, tudo o que elas achavam interessante pediam para que eu comprasse e sempre eram "surpreendidas" com a mesma resposta: "Nós vamos viajar agora. Veremos muitas coisas interessantes e diferentes por lá. 

Vamos guardar o nosso dinheiro para a viagem..."

Mal eu termino meu raciocínio quando Sofia (7 anos) solta um grito: "Que nojo!" e o Ian (3 anos): "Que legal!"

Procurei a razão para tal repugnância e admiração e qual não foi minha surpresa quando percebi que as diferentes reações eram em função de uma manequim quadril, nádegas voltadas para o público com uma calcinha fio dental vermelha, mostrando toda a sua exuberância.

O Ian, nada pândego, volta-se para a Sofia e solta a sua tirada:

"Sofia, vou complá uma plá você!"

Sofia: "Deus me livre!"

Ian: "Se você usar uma dessa, vai ficar com o bumbum bem bonitinho, igual dessa boneca aí."

O jovem casal que compartilhava a vitrine conosco, precisou sair de perto... não puderam conter o riso...

Eu mereço!


Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250

Abusos contra crianças e adolescentes


Os termos abuso ou maus-tratos contra crianças e adolescentes são usados para definir negligência, violência psicológica, física e sexual de maneira repetitiva e intencional, praticada por uma pessoa em estágio de desenvolvimento físico e emocional superior (força física, idade, condição financeira, autoridade, inteligência, etc). O agressor usa do poder, da relação de confiança e/ou força física para colocar a criança e/ou adolescente em situações para as quais não possui maturidade física, nem psicológica de enfrentamento.

A negligência define-se como toda omissão quanto aos cuidados básicos por parte do responsável pela criança ou pelo adolescente. Privação de alimentos, medicamentos, educação, higiene, integridade física, entre outros. O abuso físico é qualquer ação, única ou repetida, intencional, na qual o adulto usa sua força física para causar dor e desconforto à criança. 

O abuso emocional ou psicológico abrange rejeição, isolamento, desrespeito, punição, ameaças ou cobranças exageradas do adulto em relação à criança ou ao adolescente. O abuso sexual é entendido como todo e qualquer jogo sexual, homo ou heterossexual, onde o abusador se encontre em estágio de desenvolvimento psicossexual superior ao da criança ou do adolescente. Pode ocorrer por meio de violência física, ameaça ou indução de sua vontade, podendo variar com atos isentos de contatos físicos como voyeurismo e exibicionismo.

Os maus-tratos ocorrem de forma dinâmica não havendo limites rígidos entre as categorias. Não raro surgem de uma negligência primária, incorrendo para um abuso emocional, favorecendo às demais formas de abuso. Na co-morbidade encontram-se todas as formas de abuso presentes simultaneamente.

Alguns fatores podem desencadear e manter o abuso. O primeiro, e mais comum, está relacionado à reprodução das experiências de violência familiar vividas durante a infância, favorecendo a perpetuação dos maus-tratos. Em seguida pode-se considerar a violência como fruto de desajustes familiares e psíquicos e do alcoolismo. 

Os abusos contra crianças e adolescentes são um grave problema de saúde pública em virtude de comprometerem o desenvolvimento cognitivo, afetivo, comportamental e social. É ainda, um problema de foro jurídico, pois viola o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal n° 8069/1990). As intervenções em casos de abusos devem envolver a complexidade do fenômeno onde a interdisciplinaridade é fundamental para que aquelas sejam eficazes.

Suporte bibliográfico:
  • Crianças vítimas de abuso sexual – Marceline Gabel (org.)/1997
  • Abuso sexual contra crianças e adolescentes – Luísa Fernanda Habigzang, Renato Maiato Caminha/2004


Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250

Tirando a poeira debaixo do tapete


"Você sabe que algo não vai bem, mas não sabe como criar espaço para dizê-lo". Imagine um casal. Eles saem para comemorar seu aniversário de casamento; restaurante luxuoso, boa comida, vinho de safra especial. Relembram como tudo começou, a chegada dos filhos e... ele tenta falar sobre a vida sexual deles. Ela demonstra prontamente sua insatisfação em tocar no assunto; ele insiste, ela se mantém firme em não conversar a respeito; ele recua, o assunto "morre".

A grande maioria das pessoas se queixa sobre a dificuldade que encontra na tentativa de conversar com seus cônjuges ou filhos, especialmente quando percebem que uma crise (ressentimento e mágoa bem instalados) está perto ou já tomou conta da relação. Nesse momento, as sensações de desamor aumentam, crescendo também o distanciamento entre as pessoas. Sendo o diálogo uma solução para os problemas nos relacionamentos, como é possível favorecer seu surgimento e, mais, resultados eficazes a partir dele?

Em um diálogo, duas atitudes são extremamente importantes e igualmente difíceis – falar e ouvir. Aquele que convive comigo e que me conhece melhor do que ninguém, certamente falará sobre coisas que tento esconder de mim mesmo. Tomarei suas palavras como uma acusação e isso irá doer. Logo, a defesa: a recusa em escutar e o ataque. Quando falo, mostro ao outro aquilo que ele não quer ver, ele vai se defender, me agredir e isso também incomodará. Ver a pessoa que amo triste pelo que foi dito também machuca. Na tentativa de fugir da própria dor e de não provocar a dor na pessoa amada, jogo a poeira embaixo do tapete. A longo prazo, isso resulta na destruição do vínculo.

Quando tento, dentro de um processo de autoconhecimento, reconhecer, aceitar e mudar minhas limitações, a fala do outro não será uma surpresa, consequentemente não necessitarei me defender dela. E, ainda dentro desse mesmo processo, perceberei como nos estágios anteriores da vida (infância e adolescência) eram recebidas e sentidas as críticas positivas e negativas destinadas a mim e enviadas por mim – isso seguramente interferirá na maneira como desempenharei os papéis de emissor e receptor em um diálogo.

Para o receptor, o que mais se destaca é a crítica; para o emissor, sua fala nada mais é do que um conjunto de sugestões e julgamentos concentrados no afeto pelo outro. O resultado: dois monólogos. No exercício de autodescobrimento, ambos, revendo sua própria história e o aprendizado oriundo dela, podem falar e ouvir transformando os monólogos em um diálogo. Deborah Tannen (2003) diz: "É difícil separar os sentimentos ambíguos de carinho e crítica, porque a linguagem funciona em dois níveis: a mensagem (o sentido das palavras e das frases faladas) e a metamensagem (o significado não dito – pelo menos não com tantas palavras). Separar esses níveis – e estar ciente de ambos – é crucial para melhorar a comunicação em família."

A maturidade na relação e também no nível individual é atingida quando nos tornamos capazes de compreender que existem duas verdades, não a minha e a errada, mas a minha e a do outro. Ouvir, avaliar os sentimentos, ponderar, escolher as palavras, a intensidade da voz, falar, ouvir e assim sucessivamente... seria a solução ideal para conservar e aumentar o amor que aproximou as pessoas, mas exige a coragem de olhar para si mesmo no processo único e precioso de desvendar sua mais profunda e verdadeira essência.

Suporte bibliográfico:

- Minhas razões, tuas razões – Paulo Gaudencio (1994);
- Só estou dizendo isso porque gosto de você – Deborah Tannen (2003).


Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250

Um ser humano chamado Mãe


“Ver meus filhos adormecerem unidos e amigos no compartilhar da minha cama, enche meu coração de alegria... as respirações profundas sugerem entrega, seus semblantes serenos, a felicidade, o amor e o reconhecimento de toda a minha dedicação...” 

Muitas mulheres que se permitiram usufruir da experiência da maternidade sabem da veracidade da citação. Momentos como esses despertam sensações de pertencimento com algo sagrado e nada pode ser mais natural, afinal, além de emocionar de fato, estamos inseridos em uma cultura judaico-cristã, por força da qual aprendemos que a mãe é uma forma de incorporação do que há de mais puro e perfeito. Seus sentimentos, pensamentos e ações devem estar a serviço dessa perfeição, mas em algum momento esbarramos na realidade de que por detrás dessa imagem feminina imaculada existe um ser humano. 


Milhares de mulheres engravidam pelos mais diversos motivos que não apenas o de gerar uma individualidade e, muito embora a maternidade seja uma opção, podem vir a gerar filhos porque são cobradas socialmente, por desejarem perpetuar a espécie, por não quererem viver solitariamente, para agradar o marido, porque só se sentirão mulheres, de fato, com a maternidade, por quererem ressignificar sua relação com a própria mãe, entre outros. Não há nenhum problema quanto às reais motivações, uma vez que elas sejam conscientes e amadurecidas.

A não conscientização sobre o desejo de gerar um outro ser cria um conjunto de expectativas e frustrações entre mães e filhos, norteando a natureza da relação em análise. Componentes inconscientes interferem nas mais diversas formas de relação, portanto uma mãe será tirana, por exemplo, caso não perceba em tempo hábil sua necessidade de afirmar e reafirmar seu poder e sua autoridade, fazendo uso do filho, que é mais frágil. A mãe super protetora conseguirá mudar suas atitudes se identificar a necessidade de manter os filhos dependentes e, portanto, presos a ela, evitando a solidão que para ela é tão ameaçadora, e assim por diante.

É louvável lembrar que estas mães foram criadas e educadas por outras mães e que dentro de cada uma existe uma criança (a própria pessoa na infância) resultado dessa relação. Quando essa mulher adulta entra em contato com a criança internalizada - e isso normalmente ocorre no convívio com outras crianças - os conteúdos inconscientes começam a emergir desordenadamente comprometendo a relação com os filhos, trazendo à tona emoções como raiva, tristeza, ambivalência, culpa e por vezes sensações de inadequação, abandono e até mesmo rejeição. 

Não existe caminho mais adequado do que o reconhecimento das limitações, originadas na própria história de vida para a construção de relações mais sadias. O desvendar das necessidades possibilitará a tomada de consciência quanto à busca de satisfação por si mesmo, libertando o outro da responsabilidade de lhe fazer feliz e pleno. Catherine Serrurier, 1993 assinala: “A capacidade de amar das mães está longe de ter desaparecido. Mas sem dúvida está escondida ou sufocada por problemas individuais devidos à confusão de valores e à perda de sentido da vida.”. 

Urge, portanto, resgatar essas potencialidades internas, a fim de que, em meio ao turbilhão dos afazeres cotidianos, momentos de plenitude maternal – como o descrito no início – sejam constante e efetivamente percebidos.

Suporte bibliográfico:
Elogio às mães más – Catherine Serrurier/1993.


Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250

25 de jan. de 2012

Traição, uma via de mão dupla.


Por um lado, motivos variados para trair: insatisfação no relacionamento, curiosidade, impulso sexual, vaidade, estresse, fuga, sensação de sufocamento na vida conjugal, auto afirmação. Por outro, razões suficientes para sofrer quando traído: necessidades não atendidas ( expectativas frustradas), perda da confiança no outro e em si mesmo, sentimentos de abandono, preterição, baixa auto estima, desvalorização, injustiça e auto cobrança quanto a um desenvolvimento perfeito na convivência a dois. 

A traição pode provocar dor em qualquer um dos lados envolvidos e, dependendo dos motivos daquele que trai (nem sempre a traição está atrelada a falta de amor), ele também pode sofrer as consequências do ato como a culpa por ter sido desleal ao outro, mas principalmente aos próprios princípios, desejando ser punido até mesmo com o rompimento da relação. A punição é a forma mais comum utilizada como vingança contra aquele que traiu, atraindo o risco de inversão no “jogo”, onde a vítima passa a ser o algoz, favorecendo a “isenção” de culpa naquele que primeiro traiu , podendo acontecer com ato da mesma natureza ou, nos casos de não rompimento, infligindo ao traidor a dor “provocada”, tendo o outro como seu eterno devedor (“...podemos até ficar juntos, mas eu vou te aprisionar eternamente a sua culpa!”). 

Quanto ao rompimento, este parece ser a saída mais “fácil”, ao menos do ponto de vista da complexidade de enfrentar a raiva, a desconfiança e demais sentimentos provocados no outro. Para o traído, a convivência com a insegurança gerada pela sensação de ser substituído a qualquer momento é frequente e dolorosa. Para aquele que trai, prosseguir com a culpa e com o sofrimento infligido ao outro também não é confortável. A reconstrução do relacionamento se torna inviável quando o casal “rumina” a experiência como forma de atingir negativamente o outro. A recorrência de discussões nas quais o episódio é lembrando com frequência gera mágoas infindáveis, impossibilitando que o casal cresça com a experiência.
Reestruturar uma relação desestabilizada por essa dor não é tarefa amena, mas possível. O mais difícil é permanecer na relação simplesmente para não abrir mão do outro, sem fazer esforço para reconquistar mutuamente a confiança. Ambos precisam estar comprometidos com a relação e consigo mesmos, cabendo ao traído a reflexão sobre atitudes que possam ter precipitado tal escolha do parceiro e a este o reconhecimento da motivação impeditiva para frear tal atitude, o que favorece, além da revelação de algumas limitações afetivas, a não submissão a uma possível tortura do traído (“... infelizmente eu não posso mudar o que eu fiz, mas posso me comprometer a cuidar mais da nossa relação...” – conforme o relato de uma esposa que traíra e o marido, recorrentemente, tentava subjugá-la com a culpa, até que ele se convenceu da esterilidade dessa postura e cessou o “massacre”).

A desconexão entre os casais é uma explicação plausível para que eventos como este encontrem espaço nos relacionamentos. O olhar em direções opostas e o desrespeito à individualidade do outro – ignorando a realidade de que todo ser humano eventualmente necessita se recolher em seu próprio espaço psíquico (momentos destinados à realização do indivíduo e que não envolvem o parceiro (a)) – contribuem para o distanciamento do casal, dando causa a comportamentos diversos, geradores de conflitos, que poderão resultar em uma traição, que nada mais é do que a consequência e não a causa de uma crise.

O diálogo e as demonstrações de afeto ainda são as formas mais eficazes para “aparar arestas” (ver artigo: Tirando a poeira debaixo do tapete), e o processo de autoconhecimento instiga o desvendar de potenciais para trair ou se vitimizar, além de reconhecer nas entrelinhas de uma dinâmica afetiva o que de fato pode miná-la ou direcioná-la para a satisfação.

Suporte bibliográfico:

Não discuta a relação - Patricia Love e Steven Stosny
O Anel que Tu Me Deste - Lidia Rosenberg Aratangy 
Só estou dizendo isso porque gosto de você – Deborah Tannen


Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250

Google+ Twitter Facebook Delicious Digg Favorites More