Por um lado, motivos variados para trair: insatisfação no relacionamento, curiosidade, impulso sexual, vaidade, estresse, fuga, sensação de sufocamento na vida conjugal, auto afirmação. Por outro, razões suficientes para sofrer quando traído: necessidades não atendidas ( expectativas frustradas), perda da confiança no outro e em si mesmo, sentimentos de abandono, preterição, baixa auto estima, desvalorização, injustiça e auto cobrança quanto a um desenvolvimento perfeito na convivência a dois.
A traição pode provocar dor em qualquer um dos lados envolvidos e, dependendo dos motivos daquele que trai (nem sempre a traição está atrelada a falta de amor), ele também pode sofrer as consequências do ato como a culpa por ter sido desleal ao outro, mas principalmente aos próprios princípios, desejando ser punido até mesmo com o rompimento da relação. A punição é a forma mais comum utilizada como vingança contra aquele que traiu, atraindo o risco de inversão no “jogo”, onde a vítima passa a ser o algoz, favorecendo a “isenção” de culpa naquele que primeiro traiu , podendo acontecer com ato da mesma natureza ou, nos casos de não rompimento, infligindo ao traidor a dor “provocada”, tendo o outro como seu eterno devedor (“...podemos até ficar juntos, mas eu vou te aprisionar eternamente a sua culpa!”).

Reestruturar uma relação desestabilizada por essa dor não é tarefa amena, mas possível. O mais difícil é permanecer na relação simplesmente para não abrir mão do outro, sem fazer esforço para reconquistar mutuamente a confiança. Ambos precisam estar comprometidos com a relação e consigo mesmos, cabendo ao traído a reflexão sobre atitudes que possam ter precipitado tal escolha do parceiro e a este o reconhecimento da motivação impeditiva para frear tal atitude, o que favorece, além da revelação de algumas limitações afetivas, a não submissão a uma possível tortura do traído (“... infelizmente eu não posso mudar o que eu fiz, mas posso me comprometer a cuidar mais da nossa relação...” – conforme o relato de uma esposa que traíra e o marido, recorrentemente, tentava subjugá-la com a culpa, até que ele se convenceu da esterilidade dessa postura e cessou o “massacre”).
O diálogo e as demonstrações de afeto ainda são as formas mais eficazes para “aparar arestas” (ver artigo: Tirando a poeira debaixo do tapete), e o processo de autoconhecimento instiga o desvendar de potenciais para trair ou se vitimizar, além de reconhecer nas entrelinhas de uma dinâmica afetiva o que de fato pode miná-la ou direcioná-la para a satisfação.
Suporte bibliográfico:
Não discuta a relação - Patricia Love e Steven Stosny
O Anel que Tu Me Deste - Lidia Rosenberg Aratangy
Só estou dizendo isso porque gosto de você – Deborah Tannen
Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250
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