26 de jan. de 2012

Um ser humano chamado Mãe


“Ver meus filhos adormecerem unidos e amigos no compartilhar da minha cama, enche meu coração de alegria... as respirações profundas sugerem entrega, seus semblantes serenos, a felicidade, o amor e o reconhecimento de toda a minha dedicação...” 

Muitas mulheres que se permitiram usufruir da experiência da maternidade sabem da veracidade da citação. Momentos como esses despertam sensações de pertencimento com algo sagrado e nada pode ser mais natural, afinal, além de emocionar de fato, estamos inseridos em uma cultura judaico-cristã, por força da qual aprendemos que a mãe é uma forma de incorporação do que há de mais puro e perfeito. Seus sentimentos, pensamentos e ações devem estar a serviço dessa perfeição, mas em algum momento esbarramos na realidade de que por detrás dessa imagem feminina imaculada existe um ser humano. 


Milhares de mulheres engravidam pelos mais diversos motivos que não apenas o de gerar uma individualidade e, muito embora a maternidade seja uma opção, podem vir a gerar filhos porque são cobradas socialmente, por desejarem perpetuar a espécie, por não quererem viver solitariamente, para agradar o marido, porque só se sentirão mulheres, de fato, com a maternidade, por quererem ressignificar sua relação com a própria mãe, entre outros. Não há nenhum problema quanto às reais motivações, uma vez que elas sejam conscientes e amadurecidas.

A não conscientização sobre o desejo de gerar um outro ser cria um conjunto de expectativas e frustrações entre mães e filhos, norteando a natureza da relação em análise. Componentes inconscientes interferem nas mais diversas formas de relação, portanto uma mãe será tirana, por exemplo, caso não perceba em tempo hábil sua necessidade de afirmar e reafirmar seu poder e sua autoridade, fazendo uso do filho, que é mais frágil. A mãe super protetora conseguirá mudar suas atitudes se identificar a necessidade de manter os filhos dependentes e, portanto, presos a ela, evitando a solidão que para ela é tão ameaçadora, e assim por diante.

É louvável lembrar que estas mães foram criadas e educadas por outras mães e que dentro de cada uma existe uma criança (a própria pessoa na infância) resultado dessa relação. Quando essa mulher adulta entra em contato com a criança internalizada - e isso normalmente ocorre no convívio com outras crianças - os conteúdos inconscientes começam a emergir desordenadamente comprometendo a relação com os filhos, trazendo à tona emoções como raiva, tristeza, ambivalência, culpa e por vezes sensações de inadequação, abandono e até mesmo rejeição. 

Não existe caminho mais adequado do que o reconhecimento das limitações, originadas na própria história de vida para a construção de relações mais sadias. O desvendar das necessidades possibilitará a tomada de consciência quanto à busca de satisfação por si mesmo, libertando o outro da responsabilidade de lhe fazer feliz e pleno. Catherine Serrurier, 1993 assinala: “A capacidade de amar das mães está longe de ter desaparecido. Mas sem dúvida está escondida ou sufocada por problemas individuais devidos à confusão de valores e à perda de sentido da vida.”. 

Urge, portanto, resgatar essas potencialidades internas, a fim de que, em meio ao turbilhão dos afazeres cotidianos, momentos de plenitude maternal – como o descrito no início – sejam constante e efetivamente percebidos.

Suporte bibliográfico:
Elogio às mães más – Catherine Serrurier/1993.


Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250

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