28 de jan. de 2012

Violência familiar


“Ninguém morreu, foi só um empurrão; não houve agressão física, foram apenas uns gritos; ...só uns palavrões e um aperto no braço; ... algumas coisas quebradas e alguns dias fora de casa sem dar notícias; não foi nada, ele estava nervoso e eu provoquei”.  
Minimizar situações como as descritas é uma atitude comum entre pessoas submetidas a episódios de violência, velada ou explícita, e normalmente são verbalizadas tanto pelos agressores como pelos agredidos.

A violência pode ocorrer de forma física, resultando em danos corporais e psicológicos, e pode ser também de natureza emocional ou psicológica, implicando em prejuízos subjetivos, determinando a forma como o indivíduo (re)agirá no curso de sua vida. Pode surgir a partir de tensões dentro da família e em virtude de dificuldades na estrutura da personalidade do indivíduo, que, muito provavelmente, teve como referência familiar um ambiente hostil e agressivo, adiante reproduzido na nova família.

O agressor apresenta comportamentos abusivos, possessivos e controladores, podendo ou não haver a presença de álcool ou drogas. Pode manifestar limitações em estabelecer uma relação íntima e amorosa com as pessoas. Ocupa normalmente uma posição que “deveria” ser de alguém com o papel de proteção (mãe, pai, padrasto, madrasta, marido, esposa, etc). A relação que o agressor estabelece com o agredido resulta em sentimentos de medo, vergonha, frustração, baixa auto-estima, desconfiança generalizada, pessimismo, sentimentos confusos gerados por ambivalência, ansiedade quanto ao próximo ato de violência. As vítimas sentem-se culpadas por algum feito do qual tenha resultado a agressão; tornam-se passivas para não provocar ainda mais a ira do agressor;  afastam-se, sentem raiva e têm a necessidade da vingança (tão logo tenham condições de inverter a situação, transformam-se em agressores requintados).

Toda relação de violência sugere a existência de um forte e de um fraco, de um dominador e de um dominado, de um superior e de um inferior, e é justamente assim que a vítima acaba aderindo ao jogo do agressor. Ao aceitar o seu papel de vítima, ela se curva à expressão de um poder acima dela mesma, tornando-se aterrorizada com a possibilidade de novos ataques acontecerem e, consequentemente, abre espaço para novas demonstrações de poder por parte do agressor e assim sucessivamente.

Um outro aspecto importante de tal relação é o pacto de silêncio estabelecido entre vítima e algoz. Saffioti (1987) diz: “A divulgação do ato violento compromete a imagem da vítima negativamente. Tendem a ser ocultos, seja porque a descoberta do agressor provocaria o desmoronamento de instituições, cuja gigantesca forma deriva do caráter sagrado, como no caso da família. Dada a sacralidade da instituição familiar, a sociedade marginaliza e estigmatiza aqueles que apontam suas mazelas”. E, ainda, não aceitar o jogo do segredo que esconde atos de abuso demonstra a intenção da vítima de romper com a violência e a resposta ao rompimento também é agressiva. Ao menor sinal de agressão deve-se dizer: “Não grite comigo!, Pare!, Basta!, Não me desqualifique!, Você está me tratando mal!”, o que assustará o agressor, fazendo-o perceber a desproporcionalidade de seu ato.

Novas atitudes são necessárias para mudar o quadro violento. Bons exemplos delas são lutar para que a violência seja percebida como crime e tratada como tal em casos extremos, identificar como é expressada (física, moral, sexual, psicológica, por meio de controle financeiro), eliminar o conluio (quando duas ou mais pessoas se unem contra uma outra – esposa e marido contra os filhos, mãe e filha contra o pai, entre outros), não desanimar quando perceber que a situação não está resolvida, e manter a crença quanto à mudança desse modo de tratamento.

Mas, igualmente fundamental no enfrentamento dessa patologia psicossocial é denunciar a violência – para que as relações dela decorrentes não se fortaleçam –, estar consciente de que existe em todos os lugares onde haja divergências de opiniões, diferenças culturais, pluralidade de crenças, diversidade de valores. Persistir na missão de mostrar que tal situação é prejudicial aos envolvidos, desenvolver a capacidade para defender-se dos maus tratos e cuidar para que a comunicação seja coerente e adequada, deixando claros os limites do que é e não é permitido.



Suporte bibliográfico:

(Quem grita perde a razão – a educação começa em casa e a violência também – Luiza Ricotta - 2002).



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