“Ninguém morreu, foi só um empurrão; não houve agressão física, foram
apenas uns gritos; ...só uns palavrões e um aperto no braço; ... algumas coisas
quebradas e alguns dias fora de casa sem dar notícias; não foi nada, ele estava
nervoso e eu provoquei”.
Minimizar situações como as descritas é uma atitude comum entre pessoas submetidas a episódios de violência, velada ou explícita, e normalmente são verbalizadas tanto pelos agressores como pelos agredidos.
Minimizar situações como as descritas é uma atitude comum entre pessoas submetidas a episódios de violência, velada ou explícita, e normalmente são verbalizadas tanto pelos agressores como pelos agredidos.
A violência
pode ocorrer de forma física, resultando em danos corporais e psicológicos, e pode ser
também de natureza emocional ou psicológica, implicando em prejuízos
subjetivos, determinando a forma como o indivíduo (re)agirá no curso de sua
vida. Pode surgir a partir de tensões dentro da família e em virtude de
dificuldades na estrutura da personalidade do indivíduo, que, muito
provavelmente, teve como referência familiar um ambiente hostil e agressivo, adiante
reproduzido na nova família.
O agressor apresenta comportamentos abusivos, possessivos e
controladores, podendo ou não haver a presença de álcool ou drogas. Pode manifestar
limitações em estabelecer uma relação íntima e amorosa com as pessoas. Ocupa
normalmente uma posição que “deveria” ser de alguém com o papel de proteção (mãe,
pai, padrasto, madrasta, marido, esposa, etc). A relação que o agressor
estabelece com o agredido resulta em sentimentos de medo, vergonha, frustração,
baixa auto-estima, desconfiança generalizada, pessimismo, sentimentos confusos
gerados por ambivalência, ansiedade quanto ao próximo ato de violência. As
vítimas sentem-se culpadas por algum feito do qual tenha resultado a agressão;
tornam-se passivas para não provocar ainda mais a ira do agressor; afastam-se, sentem raiva e têm a necessidade
da vingança (tão logo tenham condições de inverter a situação, transformam-se
em agressores requintados).
Toda relação de violência sugere a existência de um forte e de um fraco, de um dominador e de
um dominado, de um superior e de um inferior, e é justamente
assim que a vítima acaba aderindo ao jogo do agressor. Ao aceitar o seu papel
de vítima, ela se curva à expressão de um poder acima dela mesma, tornando-se
aterrorizada com a possibilidade de novos ataques acontecerem e,
consequentemente, abre espaço para novas demonstrações de poder por parte do
agressor e assim sucessivamente.
Um outro aspecto importante de tal relação é o pacto de
silêncio estabelecido entre vítima e algoz. Saffioti (1987) diz: “A divulgação
do ato violento compromete a imagem da vítima negativamente. Tendem a ser
ocultos, seja porque a descoberta do agressor provocaria o desmoronamento de
instituições, cuja gigantesca forma deriva do caráter sagrado, como no caso da
família. Dada a sacralidade da instituição familiar, a sociedade marginaliza e
estigmatiza aqueles que apontam suas mazelas”. E, ainda, não aceitar o jogo do
segredo que esconde atos de abuso demonstra a intenção da vítima de romper com
a violência e a resposta ao rompimento também é agressiva. Ao menor sinal de
agressão deve-se dizer: “Não grite comigo!, Pare!, Basta!, Não me
desqualifique!, Você está me tratando mal!”, o que assustará o agressor,
fazendo-o perceber a desproporcionalidade de seu ato.
Novas atitudes são
necessárias para mudar o quadro violento. Bons exemplos delas são lutar para
que a violência seja percebida como crime e tratada como tal em casos extremos,
identificar como é expressada (física, moral, sexual, psicológica, por meio de
controle financeiro), eliminar o conluio (quando duas ou mais pessoas se unem
contra uma outra – esposa e marido contra os filhos, mãe e filha contra o pai, entre
outros), não desanimar quando perceber que a situação não está resolvida, e
manter a crença quanto à mudança desse modo de tratamento.
Mas, igualmente
fundamental no enfrentamento dessa patologia psicossocial é denunciar a
violência – para que as relações dela decorrentes não se fortaleçam –, estar
consciente de que existe em todos os lugares onde haja divergências de opiniões,
diferenças culturais, pluralidade de crenças, diversidade de valores. Persistir
na missão de mostrar que tal situação é prejudicial aos envolvidos, desenvolver
a capacidade para defender-se dos maus tratos e cuidar para que a comunicação
seja coerente e adequada, deixando claros os limites do que é e não é permitido.
Ana Virgínia de Almeida Queiroz – Psicóloga / CRP: 01-7250
Veja no link abaixo, o artigo publicado e a entrevista com a autora.
(Rádio Verde Oliva FM - 98,7).
http://www.exercito.gov.br/web/radio-verde-oliva/audios?p_p_id=noticias_WAR_noticiasportlet_INSTANCE_w0G3&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-3&p_p_col_pos=1&p_p_col_count=3&_noticias_WAR_noticiasportlet_INSTANCE_w0G3_journalArticleId=2445514&_noticias_WAR_noticiasportlet_INSTANCE_w0G3_struts.portlet.action=%2Fview%2Farquivo%21viewJournalArticle&_noticias_WAR_noticiasportlet_INSTANCE_w0G3_struts.portlet.mode=view
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(Rádio Verde Oliva FM - 98,7).
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Suporte bibliográfico:
(Quem
grita perde a razão – a educação começa em casa e a violência também – Luiza
Ricotta - 2002).
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