7 de fev. de 2012

A dor não assume gênero

Há alguns dias com meu marido em um discreto café, situado em agradável ambiente retrô...

Só no momento de ir embora pude fazer a conexão com a confusão por mim estabelecida ao tentar advinhar se o toalete no qual eu procurava entrar era feminino ou masculino. Na porta, uma obra de arte. Um busto feminino, cabelos curtos escuros e uma axilia por fazer há sema..., digo, meses... parei alguns segundos tentando não me concentrar tanto na necessidade que ali me conduzira, mas na possibilidade ou não de adentrar no lugar errado. Entrei, estava correto! Não havia mictório!

De volta à mesa, ao relatar o ocorrido, eu e meu companheiro dávamos boas risadas e prosseguíamos em descontraído diálogo mesmo saboreando nossos pedidos que chegaram em seguida.

Em um determinado momento - e eu não sei como isso acontece, mas penso que é normal -, cessamos um pouco a conversa e nos isolamos em nossos espaços psíquicos e eu, absorta em meus pensamentos sobre o novo trabalho, não percebi o que ocorria na mesa logo atrás de mim. Meu esposo, que estava de frente, me chamou a atenção para o casal entre 35 - 40 anos que discutia a relação há mais ou menos 4 minutos. De repente, ao contrário do que costuma acontecer, o homem desandou a falar, a mulher a se defender... era nítida a dor, o ressentimento, a confusão nas palavras, o clima tenso. Acusações de parte a parte, em uma discussão que provavelmente levaria ao término da relação ou que se tornaria estéril e recorrente...

Assim pensa e sente a maioria dos casais, apesar de haver uma terceira opção: a busca do equilíbrio na relação.

Eu e meu marido nos olhávamos condoídos, mas reflexivos...

Meu marido diz: "É impressionante o paradoxo do elemento tempo! Ao mesmo passo que tem o poder de curar as feridas, tem a capacidade de criá-las quando as coisas não são ditas no momento oportuno, e permitir que se alastrem enquanto perdura o silêncio no seu decurso."

Eu: Quando superada essa etapa, a relação fica ainda mais fortalecida e é muito mais graticante conviver com o outro e conosco mesmos...
... Lembrei da obra na porta do banheiro... Nessas horas homens e mulheres se fundem num complexo emaranhado de conflitos internos, onde a dor não assume gênero, mas aparenta proporções ameaçadoras, que frustram o melhor aproveitamento da oportunidade preciosa de enfrentar-se o desafio de nela colher expressivos resultados de valor intangível.

Psicóloga: Ana Virgínia de Almeida Queiroz / CRP: 01-7250

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